“[…] educar é um direito social
na base da res publica, logo, a escola
deve ser aparelhada com ferramenta tecnológica
a compatibilizar a docência com a
era digital da informação e comunicação […]
em todos os graus acadêmicos, sendo esta ação
um dever do Estado…”
|| João Barcellos, 2018
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Nós Entre Produtos Da terra
& Um Ponto Filosófico
A era em que vivemos é, talvez, um ´algo´ industrial acerca do qual se pode dizer, e o digo, que se vivencia como uma insustentável leveza tecnológica…
O ´insustentável´ aqui escrito quase como ´palavrão´, vem por conta de dois fatores:
- da mineração de produtos que a Terra oferece, mas que vêm sendo coletados pela Humanidade de maneira não adequada – e pior, com sobras despejadas sem respeitar a própria Terra e a saúde pública;
- e da equação laboral, i.e, para cada maquinário e/ou ferramenta ´digital´ existe uma cadeia produtiva analógica que desaparece e leva junto milhares de empregos relacionados a ofícios manuais.
Este quadro põe em risco a tecnologia cientificamente avançada? Sim, põe, pela não observância de uma coexistência telúrico-cósmica que permita um quadro tecnológico humanamente justificável a aceitar o ponto filosófico, que é
a Terra (espaço telúrico)
é o berço, a vida e a tumba
da Humanidade,
que deve estar conectada
com o Todo (espaço cósmico)
numa coexistência civilizatória
de ambientes
…e, a não observância deste ponto filosófico diminui as oportunidades sociopolíticas para a convivência que civiliza contra a barbárie das mentes/egos que laboram na dinâmica do insustentável com tecnologias mal aplicadas, ou vergonhosamente não identificadas como soluções alternativas para o bem público.
*
do Saber e da Inconsciência
O que temos aqui? Uma problemática cognitiva. Sim, é verdade, porque quando a Pessoa se identifica neuroticamente com o fazer-o-mal em consciência, ela produz atos antissociais, destrutivos – e ela sabe disso; é diferente da Pessoa que, por deficiência de cognição, não se apercebe do fazer-o-mal…
Eis que as lições do filósofo Manuel Reis acerca do humanismo crítico são alertas permanentes com lastro em Sócrates, Jesus, Piaget, Heidegger, Morin, etc., para uma identificação científica daquilo que nos sufoca socialmente e que é fruto do
Nós, i.e., a mente humana, que age com base no Saber e com base na Inconsciência.
Somos parte de uma Sociedade regional/local cada vez mais global[izada] pela aplicação das TIC´s em todos os segmentos da atividade humana, logo, a percepção do jogo cognitivo nos é fundamental na aferição social do que representamos em tal quadro social-societário.
*
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Nós Na Era Digital
Por Uma Humanidade Civilizada
Diamante, ferro, prata, ouro, lítio, tungstênio, chumbo, grafite, silício, etc., eis alguns dos produtos telúricos que estão na base da
era digital da indústria
e das comunicações
um tempo-espaço absolutamente operacionalizado no entorno da produção imediata para consumo massivo de bens.
Desde que povos antigos, à época céltica, descobriram o vidro, a cristalização de grãos d´areia sob uma fogueira, e já a roda era um objeto de utilidade social e bélica, a humanidade deu um pulo gigantesco na conquista de bens químicos e físicos originando, até hoje,
escolas específicas
para uma ciência multidisciplinar, que tem
por base a universidade.
[…]
O tema Educação é tratado, sempre,
de uma maneira filosófica
por João Barcellos, porque ele
traz à superfície do diálogo noemas
que podemos interpretar
como metalinguagens que embasam
a sua mundividência
entre a Sociedade e a Educação
[…]
Maria Augusta de Castro e Souza
(Profª, Berlin/De, 2016)
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Pedagogia, Arte & Ofícios
Na Era Digital
O martelo, o alicate, a tesoura, o arado, a chave de fendas, a serra, a faca, e etc., eis ferramentas e equipamentos analógicos que ainda servem a ofícios de técnica artesanal, mas, por incrível que pareça, também servem para a construção das plataformas que abrigam as geringonças eletroeletrônicas da era digital… Ora, tais ferramentas constroem a armadura, por ex., do robô, que substitui a pessoa na condução de uma máquina na linha de produção industrial automatizada.
Entretanto, um dos ofícios que mais recebe subsídios das tecnologias computadorizadas é a Pedagogia e, através dela, a Cultura Artística e os ofícios relacionados.
Certo que hoje utiliza-se do todo digital até para prototipar [ex.: impressora tridimensional] esculturas e instalações e peças promocionais, objetos didáticos para formatar uma ação pedagógica, etc., e o que mais impacta na Pedagogia é a informação digitalizada: uma espécie de abre-alas para o Conhecimento geral e específico. Além da possibilidade de bibliotecas virtuais, a informação digitalizada proporciona acesso a
tecnologias de comunicação
que levam a Docência de uma sala de aula para uma sala holográfico-digital a gerar
o ensino à distância [´ead´] e quebrar
barreiras socioeconômicas que impedem
em muitos casos a aula presencial
um pulo tecnológico que se equipara àquele iniciado com o grão d´areia vitrificado lá na era céltica e, mesmo, a concepções hodiernas didático-pedagógicas aplicadas por Piaget, Ivan Illich, Wallon, Morin, Toffler, Freire, Freinet, Maria Montessori, etc., porque
a Ideia
é uma tecnologia cerebral
embasada na criatividade
da Pessoa ela-mesma
e para o Todo humano
e assim é que a Pedagogia – seja para a alfabetização ou para o aprendizado – atravessa todas as atividades/ofícios, logo, aplicar no
Saber Que Se Ensina
as Tecnologias de Informação e de Comunicação [tic´s] é expandir essas tecnologias por outros ofícios e estabelecer ´pontes´ entre o ´relógio de sol´ e o ´relógio digital´…, e é, conferir a essas TIC´s uma responsabilidade social que por elas mesmas não alcançariam…, e é aqui que se pode considerar
a era digital
uma sustentável leveza digital,
quando se integra ao Todo humano.
No entanto, acrescento…, em algum momento o robô poderá substituir também quem ensina em sala de aula, ou seja, a máquina programada com inteligência artificial para gerenciar circunstâncias alinhadas em computação gráfica.
Ah, o robô não pensa!, dizem. É verdade, ele existe artificialmente, mas existe! E foi concebido por nós, a Humanidade, para tratar de assuntos que uma parte de nós (repito: a Humanidade) não quer tratar, como se ensinar não fosse o ato social mais importante da Sociedade que somos, mesmo que em grau precário de Civilização.
O que está em causa, aqui, é a percepção de que o cotidiano será cada vez mais tecnológico à sombra das TIC´s e menos social entre ofícios. Mas, existe sempre um ´mas´…, a Pedagogia é uma arte tão humana e civilizadora que será, como é, a ponte entre o viver a vida e a circunstância tecnológica que se impõe entre ofícios, e porque o ato pedagógico não se impõe, é ele mesmo a lei natural civilizatória!
Quando se fala de Pedagogia fala-se de Educação em todos os graus acadêmicos e/ou técnico-profissionais, logo, fazemos leituras de currículos acadêmicos que embasam as disciplinas para obtermos uma teorização que nos leve à abrangência de uma Didática de ensino-aprendizado, e esta ação leva-nos a perceber, por ex., a importância do acesso da Docência a ferramentas tecnológicas de última geração das quais pode se apropriar profissional e socialmente.
A questão que se coloca a quem tem o ato educativo como ofício não é a aquisição, por ex., de um computador, mas, a possibilidade de aprender a manusear essa tecnologia tornando-a ferramenta pedagógica e adequando-a ao respectivo grau de ensino…
[in ´Conversas entre Manuel Reis e João Barcellos´, educadores]
e então, verifica-se a importância da especificidade profissional-funcional no contexto educativo enquanto tal, e não somente pela presença das TIC´s.
E lembro que tanto Alvin Toffler quanto Edgar Morin, mostraram e mostram que as ´questões do nosso tempo´ são em si um ´choque de futuro´, da mesma maneira que Manuel Reis destrincha a questão ´ateísmo-teísmo´ para pôr um ponto filosófico entre o que é a administração política da res publica e a fé telúrico-cósmica de ´nós, a humanidade´. É aqui que entra aquela profundidade noética para a aferição filosófica do que somos e para que, afinal, servimos na Terra que destruímos!
“…não existe Sociedade
sem Escola nem Humanidade
sem Cidadania e é
por isto que o Estado
e a Religião devem construir pontes
civilizatórias, sem que esta última
interfira na praxe governamental…”
- C. Macedo | palestra, 1983
Estamos hoje numa era em que o passado e o futuro se fazem presente através de aplicativos gerados para tecnologias de informação, por isso, a Educação tem que encontrar um ponto filosófico para não perder a aventura da modernidade hodierna e colaborar no processo civilizatório com a marca do humanismo crítico. Como diz[ia] J. C. Macedo, poeta e jornalista, “a sociedade deve ser aparelhada não ideologicamente, mas escolarmente” –, pois, “[…] a Educação é a ponte entre o Bem e o Mal”.
Em suma, Senhoras e Senhores,
fala-se que as tecnologias e as ciências sempre alteram a Filosofia, nada disso…, e digo-vos, só a Educação altera o curso humano para melhor ou para pior, pelo que quem educa tem a responsabilidade maior na aplicação pedagógica de didáticas civilizatórias!
Em todas as eras buscou-se uma mobilidade social para se entender o Nós, a Humanidade e percebe-se, hoje, com a toda a parafernália eletro-mecatrônica (a base da era digital), que, fora o lucro mercantil selváticamente perseguido, o que interessa mesmo é o bem-estar da Pessoa na sua troca de ideias com fraternidade e amor…
BARCELLOS, João | escritor, pesquisador de história e conferencista [Centro de Estudos do Humanismo Crítico; Grupo de Debates Noética]
Julho-Agosto, 2019
Cotia-SP, Brasil